quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Dicas de sites de literatura ,cinema e arte

Dicas de sites de literatura ,cinema e arte


Uma coisa que costumo fazer muito, fuçar na internet. Assim, descubro alguns sites bacanas. Fiz uma lista para vocês espero que gostem.

  • Viciados em livros: Esse site links para downloads de livros muitos bons, entre eles alguns  de Caio Fernando Abreu.
  • Portas Curtas UOL: Nesse site há filmes de curtas metragem  excelentes de temáticas diversas para assistir online.
  • Origami Club: Para quem gosta de dobrar papel, esse site é sensacional. Nele encontra-se uma enorme variedade de origami com diagramas e animações, embora o idioma do site seja inglês. 
  • Domínio Público: Vale apenas conferi esse site do governo, pois tem uma variedade de livros pra downloads. 
  • Estante Virtual: Esse site funciona com vendas e compras de livros usados com preço baixos, embora algumas livrarias aproveitem o espaço para vender livros novos. Já comprei e recomendo.
  • Portal do Artesanato:  Esse ensina a fazer diversos tipos de artesanato com passo a passo e imagens. 
Curto outros sites, mas não estou lembrando de todos. Em outro dia aumento a lista. 

sábado, 20 de outubro de 2012

Um pouco de Caio Fernando Abreu


Falam muito de Caio Fernando Abreu. No Facebook aparecem diversas frases atribuídas a ele, como se fosse um conselheiro, dando solução para quase tudo. E a literatura onde está? Pois ela não está no obvio, está no único. Querer  mostrá-lo através de frases não é coisa de quem o aprecia. Caio tem na sua forma de escrever uma emoção exposta, falar de um jeito singular de diversos temas e encanta pelo estilo. Caio é conto, romance, teatro. Não  o quero ver a solucionar problema, mas trazendo ao texto emoções profundas, vidas caóticas. 
Dizem que o poema é irreduzível, acho que a prosa poética também. Espero que apreciem este conto de Caio, é um dos meus favoritos.


A BEIRA DO MAR ABERTO
 Caio Fernando Abreu
Do livro:Os dragões não conhecem o Paraíso
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...................................e de novo me vens e me contas do mar aberto
das costas de tua terra, do vento gelado soprando desde o pólo, nos
invernos, sem nenhuma baía, nenhuma gaivota ou albatroz
sobrevoando rasante o cinza das águas para mergulhar, como certa vez,
em algum lugar, rápido iscando um peixe no bico agudo, mas essas
outras águas que lembro eram claras verdes, havia sol e acho que
também um reflexo de prata no bico da ave no momento justo do
mergulho, nessas águas de que me falas quando me tomas assim e me
levas para histórias ou caminhadas sem fim não há verde nem é claro, o
sol não transpõe as nuvens, e te imagino então parado sozinho sobre a
faixa interminável de areia, o vento que bate em teu rosto, as mãos com
os dedos roxos de frio enfiadas até o fundo dos bolsos, o vento e
novamente o vento que bate em teu rosto, esse mesmo que me olha
agora, raramente, teu olho bate em mim e logo se desvia, como se em
minhas pupilas houvesse uma faca, uma pedra, um gume, teu rosto
mais nu que sempre, à beira-mar, com esse vento a bater e a revolver
teus cabelos e pensamentos, e eu sem saber o que me revolve agora
quando teu olho outra vez escorrega para fora e longe do meu, entre tua
testa larga de onde às vezes costumas afastar os cabelos com ambas as
mãos, numa mistura de preguiça e sensualidade expostas, e ,quando
teu olho se afasta assim, não sei para onde, talvez para esse mesmo
lugar onde te encontravas ontem, à beira do mar aberto, onde não
penetro, como não te penetro agora, mas é quando a pedra ou faca no.
fundo do meu olho afasta o teu é que te olho detalhado, e nunca
saberás quanto e como já conheço cada milímetro da tua pele, esses
vincos cada vez mais fundos circundando as sobrancelhas que se
erguem súbitas para depois diluírem-se em pêlos cada vez mais ralos,
até a região onde os raspas quase sempre mal, e conheço também esses
tocos de pelos duros e secretos, escondidos sob teu lábio inferior,
levemente partido ao meio, e tão dissimulado te espio que nunca me
percebes assim, te devassando como se através de cada fiapo, de cada
poro, pudesse chegar a esse mais de dentro que me escondes sutil,
obstinado, através de histórias como essa, do mar, das velhas tias, das
iniciações, dos exílios, das prisões, das cicatrizes, e em tudo que me
contas pensando, suponho, que é teu jeito de dar-se a mim, percebo
farpado que te escondes ainda mais, como se te contando a mim
negasse que deliberado a possibilidade de te descobrir atrás e além de
tudo que me dizes, é por isso que me escondo dessas tuas histórias que
me enredam cada vez mais no que não és tu, mas o que foste, tento
fugir para longe e a cada noite, como uma criança temendo pecados,
punições de anjos vingadores com espadas flamejantes, prometo a mim
mesmo nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente
próximo, e escapo brusco para que percebas que mal suporto a tua
presença, veneno veneno, às vezes digo coisas ácidas e de alguma forma
quero te fazer compreender que não é assim, que tenho um medo cada
vez maior do que vou sentindo em todos esses meses, e não se
soluciona, mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o
mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar
inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que
não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso
descarnado, essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os
pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizado do teu olho que
não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu, temendo
a faca, a pedra, o gume das tuas histórias longas, das tuas memórias
tristes, cheias de corredores mofados, donzelas velhas trancadas em
seus quartos, balcões abertos sobre ruazinhas onde moças solteiras
secam o cabelo, exibindo os peitos, tornarei sempre a voltar porque
preciso desse osso, dos farelos que me têm alimentado ao longo deste
tempo, e choro sempre quando os dias terminam porque sei que não
nos procuraremos pelas noites, quando o meu perigo aumenta e sem
me conter te assaltaria feito um vampiro faminto para te sangrar e te
deixar mudo, sem nenhuma história a te esconder de mim, enquanto
meus dentes penetrando nas veias da tua garganta arrancassem do
fundo essa vida que me negas delicadamente, de cada vez que me
procuras e me tomas, contudo me enveneno mais quando não vens e
ninguém então me sabe parado feito velho num resto de sol de agosto,
escurecido pela tua ausência,,e me anoiteço ainda mais e me entrevo
tanto quando estás presente e novamente me tomas e me arrancas de
mim me desguiando por esses caminhos conhecidos onde atrás de cada
palavra tento desesperado encontrar um sentido, um código, uma
senha qualquer que me permita esperar por um atalho onde não
desvies tão súbito os olhos, onde teu dedo não roce tão passageiro no
meu braço, onde te detenhas mais demorado sobre isso que sou e
penses quem sabe que se aceito tuas tramas, e vomitas sobre mim,
depois puxas a descarga e te vais, me deixando repleto dos restos
amargos do que não digeriste, mas mesmo assim penses que poderias
aceitar também meus jogos, esses que não proponho, ah detritos, mas
tudo isso é inútil e bem sei de como tenho tentado me alimentar dessa
casca suja que chamamos com fome e pena de pequenas-esperanças,
enquanto definho feito um animal alimentado apenas com água, uma
água rala e pouca, não essa densa espessa turva do mar de que me
falaste. no começo da tarde que agora vai-se indo devagar atrás das
minhas costas, e parado aqui ao teu lado, sem que me vejas,
lentamente afio as pedras e as facas do fundo das minhas pupilas, para
que a noite não me encontre outra vez insone, recompondo sozinho por
um dos teus traços, dos teus pêlos, para que quando esses teus olhos
escuros e parados como as águas do mar de inverno na praia onde
talvez caminhes ainda, enquanto me adestro em gumes, resvalarem
outra vez pelos meus, que seu fio esteja tão aguçado que possa rasgarte
até o fundo, para que te arrastes nesse chão que juncamos todos os
dias de papéis rabiscados e pontas de cigarro, sangrando e gemendo, a
implorar de mim aquele mesmo gesto que nunca fizeste, e nem mesmo
sei exatamente qual seria, mas que nos arrancasse brusco e definitivo
dessa mentira gentil onde não sei se deliberados ou casuais afundamos
pouco a pouco, bêbados como moscas sobre açúcar, melados de nossa
própria cínica doçura acovardada, contaminados por nossa falsa
pureza, encharcados de palavras e literatura, e depois nos jogasse
completamente nus, sem nenhuma história, sem nenhuma palavra,
nessa mesma beira de mar das costas da tua terra, e de novo então me
vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te
derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca
para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem
urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim
calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me
apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que
jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara
colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente
assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos
honestamente assim, eu digerindo faminto o que o teu corpo rejeita,
bebendo teu mágico veneno porco que me ilumina e anoitece a cada dia,
e passo a passo afundo nesse charco que não sei se é o grande
conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim, nos afastamos
depois cautelosos ao entardecer, e na solidão de cada um sei que
tecemos lentos nossa próxima mentira, tão bem urdida que na manhã
seguinte será como verdade pura e sorriremos amenos, desviando os
olhos, corriqueiros, à medida que o dia avança estruturando milímetro
a milímetro uma harmonia que só desabará levemente em cada roçar
temeroso de olhos ou de peles, os gelos, os vermes roendo os porões que
insistimos em manter indevassáveis, até que o não-feito acumulado
durante todo esse tempo cresça feito célula cancerosa para quem sabe
explodir em feridas visíveis indisfarçáveis, flores de um louco vermelho
na superfície da pele que recusamos tocar por nojo ou covardia ou
paixão tão endemoninhada que não suportaria a água benta de seu
próprio batismo, e enquanto falas e me enredas e me envolves e me
fascinas com tua voz monocórdia e sempre baixa, de estranho acento
estrangeiro, penso sempre que o mar não é esse denso escuro que me
contas, sem palmeiras nem ilhas nem baías nem gaivotas, mas um
outro mais claro e verde, num lugar qualquer onde é sempre verão e as
emoções limpas como as areias que pisamos, não sabes desse meu mar
porque nada digo, e temo que seja outra vez aquela coisa piedosa,
faminta, as pequenas-esperanças,mas quando desvio meu olho do teu,
dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou
fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível
recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e
talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde
aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um
brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as
manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as
inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e lentamente
falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e
lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não
consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me
emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas
histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas como
esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me
cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não
acaba nem assim nem agora nem aqui
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Mario quintana, lição de poesia

Mario quintana

Intérpretes

Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é um a interpretação.


Do livro: A vaca o hipogrifo


Mario Quintana do seu modo dá lições de poesia.Quantas vezes já lemos um poema tornava claro algo para  nós ou era a definição mais perfeita de um sentimento. E tantas vezes a poesia parece absurda e só assim seria a emoção em palavras. As emoções fogem da lógica, da razão e a poesia nos faz senti-las em palavras.